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quinta-feira, 14 de junho de 2012

QUESTÕES COMENTADAS 1° E.Q. UERJ – VESTIBULAR 2012

Professora: Laryssa Naumann

01) (b) O enunciado menciona a linguagem do cinema e o relaciona com a ideia de movimento e a câmera. É interessante notar que, no cinema, a câmera direciona a visão do leitor / espectador. No caso da história em quadrinho, a “câmera” se aproxima da personagem feminina, sugerindo um efeito de “zoom” (que é típico da linguagem do cinema). Isso é feito para mostrar o “memorex” (remédio para memória) e construir todo o sentido do texto (já que o personagem masculino, o senhor, sofre tanto de perda de memória que se esqueceu da cadeira na hora de sentar).

02) (c) O efeito de surpresa (e também a construção do humor) nasce de uma quebra da expectativa. No caso da tira, as imagens acompanham atividades cotidianas realizadas pela personagem. Dessa forma, nossa expectativa é que essa realidade se mantenha, ou seja, esperamos uma sequência de ações banais, corriqueiras, comuns. Mas aí, aparece algo completamente inesperado e inusitado: a imagem do senhor “sentado no ar”. O ponto aqui, portanto, é o forte contraste entre a banalidade das primeiras três tiras e o inusitado da última.

03) (d) A questão menciona duas oposições no enunciado, mas a oposição relevante é aquele entre “outro mundo” (mundo espiritual ou sobrenatural, do além, dos mortos) e “este mundo” (mundo material, da Terra, dos vivos). Nesse caso, a expressão que se refere ao “outro mundo” é “histórias de assombrações”.

04) (a) O enunciado informa que o texto trabalha com duas comparações. A primeira delas, o próprio enunciado diz qual é: trata-se da comparação entre diferentes de papéis sociais, a saber, patroas e criadas. Ao compará-las, o texto mostra que apenas as primeiras podiam se dar ao luxo de ter enxaquecas, ao passo que as segundas não tinham esse “direito”. No entanto, a sentença diz respeito a uma outra oposição – aquela que aparece na alternativa A. Note que, nessa alternativa, opõe-se o comportamento dos meninos de ontem (ficavam “na sua”, quietos, não davam opinião) ao comportamento dos meninos de hoje (infere-se que têm voz ativa, dão opinião).

05) (b) Após afirmar que nunca tivera contato com o “outro mundo”, que se refere tanto ao fictício quanto ao sobrenatural, o narrador corrige, brevemente, esse pensamento. Diz, então, que, por meio das leituras de “O tico-tico” (que foi a primeira revista de história em quadrinhos do Brasil) e de Camões, foi capaz de “interagir com universos diferentes”. Podemos entender “ressalva” como uma espécie de exceção (Exemplo: “Todos irão passar no vestibular, a não ser que alguém falte à prova”). No caso do texto, a incomunicabilidade do personagem tanto com este quanto com o outro mundo tinha a sua exceção: O tico-tico e a poesia de Camões, que permitiam ao narrador “viajar”.

06) (a) No texto, como indica o enunciado, podemos associar às senhoras as seguintes palavras: “chá”, “elegância”, “laçarote”, “privativa” e “espichado” (adjetivo que se refere ao dedo mindinho das senhoras). Já às criadas, somente “fantasmas” (sabemos disso pelas histórias de assombração que elas contavam ao menino). Por outro lado, as palavras “verdadeira” e “encanados” referem-se à “poesia” e aos “ventos”, respectivamente. Desta forma, a única opção em que aparece o contraste entre senhoras e criadas é a “letra a”, que apresenta o par chá e fantasmas. Em resumo, a divisão entre classes sociais, relatada pelo contraste entre as senhoras e as criadas, é expressa pelos termos “chá”, que representa a sofisticação daquelas, e “fantasmas”, que representa as histórias contadas por estas.

07) (d) Nós sabemos que qualquer ser humano está sujeito a enxaquecas – trata-se de um problema independe da classe social do paciente. Portanto, a afirmação de que “Ter exaqueca não era para todas” não faz sentido se for tomada literalmente, ou seja, ao pé da letra. Como devemos entendê-la, então? Da seguinte forma: embora as criadas pudessem ter exaqueca, não podiam deixar de cumprir com suas tarefas, diferentemente das senhoras, que podiam se dar ao luxo de alegar enxaqueca sempre que não quisessem cumprir com algum compromisso. Dessa forma, podemos perceber o tom irônico com o qual o narrador marca a distinção entre as classes sociais (e sutilmente critica as senhoras da alta sociedade).

08) (d) O uso da expressão “impressão de realidade”, quando o narrador fala sobre como suas lembranças “conjugam-se” e “complementam-se”, deixa clara a consciência que o narrador tem sobre o caráter parcialmente ficcional de suas memórias. Afinal de contas, impressão de realidade não é a realidade em si, mas apenas a forma como um determinado indivíduo percebe ou se recorda dos fatos. Isso abre espaço, portanto, para que parte dos eventos narrados sejam inventados (ou pelo menos exagerados...), ou seja, ficcionais.

09) (a) Questão sobre modificadores, especificamente sobre advérbios. Nesse caso, precisamos encontrar a opção em que o advérbio esteja relativizando o sentido da palavra a que ele se refere. Relativizar alguma coisa é tratá-la como não absoluta, como não categórica. Relativo é aquilo que é incerto, que pode ser mais de uma coisa, ou seja, o oposto de absoluto. Dessa forma, as opções B e C já devem ser excluídas, pois os advérbios “absolutamente” e “certamente” são contrastantes ao que é relativo. O advérbio “pacientemente”, da opção D, não expressa nada além do modo como foi realizada a ação de desenterrar. Portanto, resta-nos a opção A, em que o advérbio
“presumivelmente”, derivado do verbo presumir (que significa achar, supor, julgar a partir de certas probabilidades), expressa a incerteza sobre a veracidade da história contada.
Em relação à opção B, é interessante destacarmos que o advérbio “certamente” funciona como um advérbio de frase e, portanto, emite uma opinião sobre o enunciado como um todo.

10) (c) “Linguagem figurada” está ligada a “sentido conotativo” (criativo) e em geral se opõe a “sentido denotativo” (dicionário), que se refere ao sentido literal dos termos. Então, se digo que “Margarida é uma flor” e faço uma leitura denotativa entendo que margarida é uma planta. Já se opto por uma leitura conotativa, penso que Margarida é uma mulher encantadora ou meiga. Pensando nisso, percebemos que a única opção em que há linguagem figurada é a “letra c”, já que, literalmente falando, não faz sentido nenhum dizer que tristezas (que são um sentimento – algo abstrato, portanto) se aquecem. Essa frase, portanto, não pode ser interpretada literalmente – ou seja, não pode ser interpretada denotativamente, mas apenas conotativamente (em sentido figurado).

11) (a) O trecho sublinhado estabelece uma relação de explicação / causa em relação ao trecho anterior. Vejamos: 1° evento: “fui obrigado a atirá-lo na água”; 2° evento: “não resguardei os apontamentos”. Desta forma, podemos perceber que jogar os apontamentos na água é o motivo para ele não os ter mais. Assim, é fácil concluir que o conectivo adequado é o “porque”.

A “letra b” e a “letra c” apresentam valor de oposição, e a “letra d”, de conclusão/consequência. É nesta última que reside o perigo, mas não para a gente! Por que já sabemos que causa e consequência caminham juntas, mas que temos que ver qual dos eventos o conectivo está introduzindo. Nesse caso, o conectivo introduziria o primeiro evento, então, não podemos ter dúvida: trata-se de causa/explicação.

12) (c) Diante das incertezas sobre a história que irá narrar, principalmente em relação aos efeitos sobre aqueles que serão citados e sobre a fidelidade da narrativa aos fatos, o narrador passa a fazer questionamentos sobre seu ato, expressos pelas várias perguntas presentes no trecho. Cabe destacar, também, que esse procedimento, de utilizar o texto para falar dele próprio, é chamado de metalinguagem.

13) (d) Julgar é um ato subjetivo, que não necessariamente condiz com a realidade objetiva. O verbo “julgar” pode ser considerado, nesse contexto, sinônimo de “acreditar”, “achar”.  Assim, o narrador relativiza o seu próprio ponto de vista, sabendo que ele, de forma alguma, não pode dar conta da totalidade dos acontecimentos. Em outras palavras, fica demonstrada sua dificuldade e até impossibilidade de reproduzir fielmente a realidade em um relato.

14) (a) Verossimilhança, como o próprio enunciado conceitua, é a semelhança com o real. Desta forma, a ficção torna-se convincente se “parecer contar uma história real”. Para resolver essa questão, era só ler com atenção o enunciado.

Apesar de simples, a questão é útil para falarmos de “verossimilhança interna”. Traduzindo: algumas ações, imagens apresentadas em um texto fantástico ou de ficção científica, por exemplo, são aceitas por nós, leitores, não por elas terem semelhança com o real, mas porque o autor criou um “estado de coisas” interno na obra que nos permite aceitar essas “mentirinhas”. Então, não questionamos o fato de o Super-homem voar e a sua história não perde valor, por nesse aspecto não respeitar a verossimilhança, já que existe uma premissa interna que justifica isso: ele é um extraterrestre.

15) (c)  O adjetivo “Leviandade” refere-se a todo o período anterior. Habitualmente, escreveríamos: Afirmar isso seria leviandade. Mas, por questões estilísticas, o autor opta por suprimir esses termos já que são facilmente subentendidos.

OBSERVAÇÕES FINAIS – RESUMÃO – 1° EQ UERJ Vestibular 2013.


1) Tipos de raciocínio
a) Indutivo: parte-se do particular e chega-se ao geral.
Ex: Teste de medicamento é feito a partir de um grupo de pessoas. A partir do que é observado nesse grupo generaliza-se para o resto da humanidade.
b) Dedutivo: parte-se do geral e chega-se ao particular.
Ex: É sabido que todos os seres humanos precisam de água para sobreviver, assim, podemos concluir que um ser humano qualquer morrerá caso fique sem água.
c) Silogismo: é o raciocínio constituído de duas premissas (uma geral e uma específica) e uma conclusão. Pode ser verdadeiro ou falso (quando é falso, chamamos de sofisma ou falácia).
Ex: Verdadeiro: Todo felino tem quatro patas. Billy é um felino. Logo, Billy tem quatro patas.
       Sofisma: Deus é amor. O amor é cego. Logo, Deus é cego.

2) Figuras de linguagem mais cobradas no exame de qualificação da UERJ
1) Metáfora: analogia ou comparação implícita (associação mental)
Ex: “Sua boca é um cadeado. E meu corpo é uma fogueira” – Chico Buarque de Holanda
2) Comparação: identificada por uma conjunção (“como”, “assim como”, “feito”)
Ex: “A felicidade é como a gota de orvalho” – Vinícius de Moraes
3) Metonímia: emprego de uma palavra por outra com a qual ela se relaciona
Ex: a parte pelo todo: “O bonde passa cheio de pernas” – Carlos Drummond de Andrade
4) Ironia: caracteriza uma crítica indireta.
Ex: Cada vez que você fala ao mastigar, percebo como é bem educado.

3) Semântica dos verbos
Presente do indicativo
- Ação rotineira: Eu moro aqui e trabalho lá.
- Fato que ocorre no momento da fala: Juninho chuta a bola... gol!
- Fato futuro: Amanhã, conto tudo para você.
- Fato passado: Em 1964, os militares tomam o poder.
- Verdade absoluta: Os elétrons se agrupam para formar os compostos químicos.
Futuro do pretérito
- Fato passado posterior a outro fato passado: No sábado, disse que escreveria no blog na quarta passada.
- Distanciamento (ausência de comprometimento) ou hipótese: Caio Castro estaria apaixonado por Gretchen.
- Fato dependente de uma condição: O mundo seria melhor se não vivêssemos no capitalismo.
- Questionamento: Seria possível terminar o conteúdo até a prova?

4) Semântica dos conectivos
Contraste
Eu cai da escada mas não me machuquei.
Embora tenha caído da escada, não me machuquei.

Conclusão / Consequência
Cai da escada, logo me machuquei feio.
Cai de uma escada tão alta, que me machuquei feio.

Explicação / Causa
Machuquei-me feio, porque cai da escada.
Como cai da escada, me machuquei feio.

Condição
Se eu caísse dessa escada, me machucaria feio.

-- Na apostila ainda podemos conferir os seguintes valores: adição, alternância, finalidade, comparação, conformidade, proporção e tempo.

5) Coesão
Anáfora: retoma termo anterior
Ex: O rapaz disse que irá viajar. Mas ele ainda não comprou a passagem.
Catáfora: antecipa termo.
Ex: Eu sei de tudo: o rapaz não conseguirá o bilhete.

Alguns conceitos importantes
1) Paráfrase: reescrita de um texto (com outras palavras) sem perda semântica (ou seja, sem mudança de sentido).
2) Modalizadores: são vocábulos que emitem uma opinião do autor sobre o conteúdo veiculado; torna o texto parcial.
3) Dilema: argumento pelo qual se coloca uma alternativa entre duas proposições contrárias.
4) Hipertexto: espécie de super texto; um texto maior que contém vários níveis textuais lidos em múltiplas direções.
5) Ambiguidade:  quando o enunciado ou por questões de organização dos termos na frase ou por causa de uma palavra admite mais de uma leitura. Esse recurso é muito utilizado em propagandas.